Os anos 70 foram marcados por momentos de tensão. O Mundo vivia em sobressalto com a guerra fria entre União Soviética e Estados Unidos, com os escândalos como o Watergate envolvendo episódios de espionagem que levaram à renúncia do presidente Nixon e também com os descontentamentos com a Guerra do Vietnã que já durava algumas décadas.
No Brasil, por um lado existia a repressão política que teve inicio após a assinatura do Ato Institucional nº5, em 1968, do outro, o grande crescimento econômico que ficou conhecido como a "década do Milagre Brasileiro". Nas cidades crescia o número de pessoas e com isso o Brasil tinha que enfrentar novos desafios, como as questões envolvendo falta de moradia, saúde, educação e trabalho.
O período foi marcado pela expansão da indústria cultural, dos meios de comunicação de massa e do consumo dos bens simbólicos no país. O Nacionalismo era difundido aos quatro ventos e ficou marcado pela música Pra Frente Brasil ("Noventa milhões em ação pra frente Brasil do meu coração....") criada por Miguel Gustavo, e que consagrava a conquista do tricampeonato mundial de futebol pelo Brasil no México. Então, de um lado tínhamos o governo ditatorial do General Garrastazu Médici realçando os aspectos nacionalistas e do outro, inúmeras perseguições e atrocidades praticadas pelos militares contra milhares de jovens que discordavam, entre outras coisas, das injustiças sociais.
Neste período houve ainda intensa campanha de censura aos meios de comunicação e às artes de modo geral, o que inibia de forma significativa à criação artística e a difusão de informações.
Não podemos, porém, deixar de citar alguns manifestações que foram baluartes de resistência no período como o semanário O Pasquim, fundado no Rio de Janeiro em 1969 pelo cartunista e jornalista Jaguar com a colaboração de Ziraldo, Millôr Fernandes, Paulo Francis, Henfil e outros e o Disco de Bolso da Revista Pasquim que acabou revelando nomes da MPB como o de
João Bosco, Fagner e Belchior.
Diante deste quadro de censura, as emissoras de Rádio e TV, assim como os jornais e Revistas estavam o tempo todo sendo vigiados pela Policia, o que fazia com que quase nada pudesse ser divulgado, com isso, algumas emissoras, com menos compromissos com a ética e a verdade chegaram a ponto de criar histórias, o que somadas à ansiedade e à falta de informação por parte da
população fez com que surgissem inúmeras lendas urbanas.
E é nesse cenário que nos anos 70, o imaginário do povo do Recife, foi habitado por uma perna "cabiluda". Ela surgia pulando, atacava os transeuntes, dava chute em todo mundo, e depois fugia aos saltos.
Em "A Veia debaixo da Cama e a perna cabeluda" José da Costa Leite retrata uma das aparições da perna Cabiluda:
..."Eu não posso está parado
que a poesia me chama
para distração do povo
vou descrever mais um drama
da perna preta cabeluda
que encontrou carrancuda
a véia debaixo da cama...
... O povo chamava ela
a véia Zefa Beiçuda
apesar de ser coroa
inda era boazuda
e o pior aconteceu
quando um dia apareceu
a perna preta cabeluda
Pois a perna cabeluda
em São Lourenço apareceu
e o Jornal do Comércio
toda reportagem deu
à TV Globo anunciou
e todo rádio citou
como foi que aconteceu..."
Existem inúmeras
versões sobre a origem da história da Perna Cabiluda,
porém entre elas se destaca a do repórter policial Jota Ferreira com o radialista Pernambucano Geraldo Freire. Segundo Ferreira a história surgiu numa noite em que o mesmo estava fazendo plantão para uma rádio no Hospital da Restauração e falou, por brincadeira, sobre a perna cabiluda. Imediatamente Freire que estava apresentando um programa noturno começou a receber telefonemas de pessoas que juravam ter visto a perna. E foi assim que a história foi inserida no cotidiano das pessoas e está sendo repassada em várias versões para as gerações seguintes.
Atualmente os educadores não podem mais negar a presença das mídias no cotidiano dos alunos. Todos nós convivemos em uma sociedade que tem como mola propulsora a informação. Neste contexto, é importante o aluno conhecer e discutir o papel dos veículos de comunicação, qualidade da programação e também a veracidade do que é informado.
Em resumo, a realização de atividades que se apropriem e discutam os
meios de comunicação e também a sua utilização na escola pode estimular os alunos a pesquisarem sobre como são feitos os programas, a necessidade da ética do profissional de comunicação e também o quanto estas produções podem influenciar positiva e negativamente suas vidas.
A nossa proposta é discutir a qualidade e a manipulação de informações em veículos de comunicação e apresentar propostas e idéias para transformá-los em espaço para propagação de idéias e construção de conhecimento. Como ferramentas escolhemos o Rádio ou a Web Rádio conforme veremos a seguir.
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-Discutir, a partir da história do Curta: "A Perna Cabiluda", questões que envolvam a Manipulação da opinião pública pelos meios de comunicação, o Senso ComumX senso crítico e também a Cultura Popular.
-Pesquisar e analisar os programa de informação que assistimos, o que ouvimos no nosso dia-a-dia e a partir daí tentar identificar o quanto os comunicadores mantêm a fidelidade com a verdade.
-Pesquisar histórias que são contadas no nosso bairro e tentar identificar se elas tiveram origem na cultura popular ou em informações criadas pela imprensa
-Desenvolver a criatividade com a concepção, produção e edição de um programa de rádio
-Desenvolver a expressão escrita ao exercitar a elaboração dos roteiros
-Desenvolver o trabalho colaborativo
-Diversificar a aprendizagem através das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
-Ampliar as possibilidades de práticas interdisciplinares.
Na seqüência os alunos terão a apresentação do Curta "A perna Cabiluda". O Curta é um documentário que conta, por meio de entrevistas e também da reconstrução fictícia dos programas de rádio da época a história da Perna Cabiluda que aterrorizou o Recife na década de 70.
Durante a apresentação do vídeo o aluno terá contado com inúmeros personagens que ao mesmo tempo em que afirmam acreditar na história levantando até outras possíveis versões sobre o fato levantam a dúvida se a Perna Cabiluda realmente existiu. Na seqüência alguns comunicadores falam de como havia a manipulação dos fatos.
Após o filme o professor deve fomentar um debate no qual os alunos possam tentar encontrar ganchos entre a história apresentada e o material pesquisado sobre os veículos de comunicação e a veracidade das informações. Esse debate é importante, pois será a partir daí que sairão os temas para a produção de programas de rádio ou de web rádio.
Na seqüência, a turma será dividida em grupos e cada uma das equipes irá pesquisar durante uma semana um programa radiofônico tentando fazer uma análise detalhada do que é apresentado e de como a informação é levada ao público. O aluno deve ser estimulado a verificar como o locutor apresenta o programa, como as músicas são inseridas, se existem chamadas para os fatos de maior suspense, se existe a participação do ouvinte, como se dá esta participação etc.
Na semana seguinte os alunos dão início à montagem de um programa de rádio que terá como tema central a realidade de sua comunidade. O grupo irá buscar histórias do cotidiano dos moradores, seus gostos, comidas, formas de lazer e vão tentar transmiti-las de forma a manter sempre a ética e a veracidade da notícia.
O projeto será dividido em etapas com o intuito de tornar possível o uso da linguagem radiofônica no processo de ensino escolar, na transmissão de conhecimentos interdisciplinares, além de permitir aos alunos se aproximarem da informação mais ampla e transformá-la em algo que fale do cotidiano deles e que tenha também a característica de manutenção da cultura local.
A seguir apresentamos as etapas para a criação da rádio ou web rádio e também oferecemos algumas dicas para a elaboração de um programa radiofônico.
Temas para a discussão:
Pesquisar:
-Como disseminar informações sobre esse tema?
-O que é uma rádio?
-O que é web rádio?
-Quais as diferenças e semelhanças entre a rádio convencional e a rádio na Web?
-Como podemos produzir programas de rádio ou web rádio para socializar nossas idéias sobre a importância de se discutir o papel dos veículos de comunicação na construção da cidadania?
O Rádio
Com mais de cem anos de existência, o rádio vem contrariando as avaliações pessimistas que já previram por inúmeras vezes o seu fim. No Brasil, a primeira emissão radiofônica oficial aconteceu em 7 de setembro de 1922, durante as comemorações do Centenário da Independência, com a transmissão do discurso do presidente da República, Epitácio Pessoa, em comemoração a data. Foram importados 80 receptores de rádio especialmente para o evento. De lá para cá, a radiodifusão brasileira cresceu tanto que hoje existem aproximadamente 3000 emissoras comerciais de rádio espalhadas pelo território nacional, de acordo com dados do Ministério das Comunicações.
O rádio é um eletrodoméstico acessível e por isso está presente na maioria dos lares brasileiros. Outra qualidade que vale a pena destacar é que o rádio é o meio de comunicação que mais se aproxima do interesse da maioria das pessoas.
O rádio estabelece o diálogo com o ouvinte e mexe com o imaginário, uma vez que temos a voz e o restante é o ouvinte quem cria. Para alguns estudiosos, a imaginação é o ponto mais importante do rádio, pois é o que permite a interatividade e permite o desenvolvimento do protagonismo e da cidadania.
O rádio é, sem dúvida, um veículo de grande atuação social, pois pode unir pessoas das mais diferentes classes sociais, níveis intelectuais, religiões e outras diferenças sociais, através do acesso à informação e também do entretenimento. Podemos com isso dizer que o rádio é sem dúvida um veículo democrático e tem um papel importante na transmissão de conhecimentos.
Existem hoje diversos projetos públicos que promovem a criação de rádio na escola, tais como o Programa Rádio Escola do Ministério da Educação.
Atualmente o rádio possui também uma versão de transmissão via Web o que faz com que ele rompa as barreiras de alcance existentes até então e passe a ter a possibilidade de agregar informação e cultura produzida onde quer que seja, desde que exista a possibilidade de conexão via Internet. O uso da web rádio permite que ouvintes passem a atuar como produtores e transmissores de informação.
O uso do Rádio como uma ferramenta pedagógica faz com que o aluno comece a pensar no que é apresentado nos programas não mais como receptor passivo, mas como agente ativo do processo comunicativo, o que com o passar do tempo pode levá-lo a criar redes sociais de comunicação onde ele irá discutir e analisar os problemas da sua comunidade.
Para se criar Uma rádio convencional:
Atualmente para montar uma rádio, basta providenciar um microsystem com entrada para microfone e as caixas acústicas com isso já é possível fazer com que o som chegue aos ouvintes. Agora para as escolas que querem fazer algo mais completo segue uma lista de equipamentos que tem custo muito reduzido.
Equipamentos:
-Mesa de som - é o equipamento onde conectamos o microsystem, o microfone, os fones de ouvido e etc. Dependendo da quantidade de canais, admitem mais equipamentos, como toca-discos. Dela sai também à fiação para as caixas de som
-Microfone - Serve para captar as vozes
-Fone de ouvido - é o equipamento que dá o retorno do som que está sendo executado
-Microsystem - É um aparelho de som composto de toca-CD, rádio e toca-fitas e possui uma entrada para microfone
-Gravador (Repórter) - equipamento utilizado para fazer gravações fora do estúdio
-Caixas de som - Um sistema de alto-falantes instalado no pátio e que reproduz o que está sendo veiculado no estúdio. É possível também utilizar um equipamento chamado Cornetas, muito comuns em Festas Juninas
-Estúdio 2x2 m (tamanho mínimo)
-Mesa e cadeiras
-No caso de web rádio Softwares de captação e edição de som (existem vários gratuitos).
A Web Rádio
É uma "rádio virtual" que uma pessoa ou conjunto de pessoas criam e disponibilizam o conteúdo via Internet. A Web Rádio é na verdade uma convergência de mídias, pois engloba texto, imagem e som.
Passo a passo para montagem dos Programas de Rádio
Os grupos, sob a orientação do professor, tanto para a rádio convencional quanto para a web rádio, terão que planejar a elaboração de seus programas, com o objetivo de conseguirem preencher o tempo de programação que cabe a cada grupo e apresentando ao ouvinte uma programação de qualidade.
As etapas para a criação de uma boa programação radiofônica são:
-Reunião de Pauta
-Pauta
-Desenvolvimento do Roteiro do programa
-Coleta dos materiais/Entrevistas
-Edição do Programa
-Grade de Programação
O Roteiro:
Segundo Luiz Carlos Maciel em O poder do Clímax, o roteiro é uma rota não apenas determinada, mas 'decupada', dividida, através da discriminação de seus diferentes estágios. Roteiro significa que saímos de um lugar, passamos por vários outros, para atingir um objetivo final.
Em resumo: roteiro é a forma escrita de qualquer produto audiovisual onde temos a descrição objetiva das seqüências, diálogos e também as indicações técnicas.
A Construção e produção do Roteiro:
-Definir o tema - É preciso ter um assunto bem definido e com objetivos claros, isso é feito na reunião de pauta
-Realizar a reunião de pauta - nesse momento são realizadas as pesquisas e a discussão sobre a viabilidade do tema
-Dividir o tema em blocos, pensar nas trilhas/ músicas de acordo com o tema geral ou de acordo com os assuntos pontuais:
-Cada bloco: quatro a cinco minutos, no máximo.
-Sonora: no máximo quarenta segundos cada.
-Trilha: abre e encerra o bloco.
-Música: serve para reforçar uma idéia ou um conceito no trabalho.
-Texto: preferencialmente o texto interpretativo.
-Agendar e realizar as entrevistas (sempre que possível faça uma mescla dos assuntos atuais com fatos do passado)
-Gravar as apresentações dos locutores
-Iniciar a montagem do programa que poderá começar com música, som ambiente, vinheta etc. e depois será intercalada com as falas do locutor, as entrevistas e notas.
Dicas:
1. O Texto para o Rádio - A pessoa que irá escrever os textos para o programa de rádio deve lembrar-se de que o ouvinte estará desenvolvendo outras atividades enquanto ouve o programa. Por isso, o texto deve ser claro e objetivo, levando em conta que o ouvinte precisa entender a informação sem rodeios ou deduções.
Sites sobre as lendas urbanas do Recife
http://www.jangadabrasil.com.br/fevereiro42/cn42020c.htm
http://www.orecifeassombrado.com/Historias008.html
http://www.escolarecife.org.br/varios/perna-cabeluda.htm
Sites com dicas para a montagem de web rádios
http://troia.radiolivre.org/node/460
Links de programas para montagem de rádio web
Zararadio
http://www.radiocasares.com/software/zararadio/ZaraRadio.exe
Zarawebs RDS
http://www.radiocasares.com/software/zararadio/utilidades/ZaraRadioWebRds.zip
Livros sobre Rádio Digital
Avila, Renato Nogueira Perez. Streaming - Crie sua Própria Rádio Web e TV Digital. Rio de Janeiro: Editora Brasport, 2004, 1ª edição.