O documentário "Àkàrà, no fogo da intolerância" faz parte da coleção Educação Antirracista e pode ser trabalhado no Ensino Médio. Sugerimos que algumas temáticas sejam abordadas previamente para elucidar a compreensão do vídeo, como, por exemplo:
- Escravidão e resistência no Brasil;
- Intolerância religiosa e racismo no decorrer da História.
Para auxiliar na discussão coletiva depois que a turma assistir ao vídeo, confira o resumo a seguir.
O documentário conduz uma entrevista que relata e discute intolerância religiosa e racismo contra as religiões de matriz africana, o que ultrapassa esse cenário e envolve a política governamental brasileira.
O nome Àkàrà, tradução “acarajé”, faz referência não só a um prato típico baiano, mas a toda uma cultura e História. O acarajé é uma tradição oriunda das “ganhadeiras”, mulheres escravizadas que foram alforriadas e vendiam o alimento para libertar outros escravos, além de ofertá-los às suas divindades. Essa herança cultural permanece atualmente com as "baianas do acarajé”, que passam os saberes de geração em geração.
A obra audiovisual aponta para uma necessidade social de conviver com a diferença, uma vez que a humanidade se construiu por meio da inferiorização e diabolização do que é diferente. No início da colonização brasileira, a igreja católica tinha uma forte influência na sociedade e manteve escravos até quando foi possível. O trabalho forçado foi consolidado pela crença em um deus branco e em um diabo negro.
Esse pensamento prevalece na contemporaneidade, junto ao enfeiamento das pessoas negras, as quais estão sujeitas a menores oportunidades, desigualdade social atrelada à racial, preconceito, intolerância religiosa, falta de representatividade política e poucas políticas governamentais para atendê-las.
Apesar disso, os povos africanos e afrodescendentes resistiram e resistem. Na época da escravidão, a religiosidade precisou ser camuflada, ou seja, os negros preservaram a sua identidade com base na religião católica para que não pudessem ser perseguidos. Ainda hoje, existe uma falsa ideia social preconceituosa e estereotipada de que religiões, como o Candomblé, cultuam o diabo.
Uma das formas de resistência cultural é a produção de acarajé, um ofício tipicamente feminino. A preparação do alimento, bem como as vestimentas e os adornos da baiana, são características dessa comida sagrada e, por isso, existem várias lutas (inclusive jurídicas) para respeitar o conjunto enquanto um Patrimônio Cultural do Brasil, o que inclui o alimento e a vestimenta apropriada da mulher. Desse modo, a luta contra a descaracterização do acarajé reforça as normas para a sua produção e venda.
Boa parte das baianas do acarajé são mulheres negras, sem marido, semianalfabetas e que sobrevivem das vendas do alimento. Em contraposição às mulheres baianas de religiões afrodescendentes, o documentário apresenta uma mulher cristã que também faz acarajé, mas não usa, em suas palavras, as “vestes de satanás".
O vídeo demonstra a falta de um espaço e delegacias para receber casos de intolerância religiosa e racismo. Muitas pessoas são alvos de ameaças, difamações, agressões físicas e verbais, invasões de terreiros, o que deixa claro que o racismo é estrutural e consequência histórica.
Os índices de intolerância são altos, principalmente por causa da influência de organizações neopentecostais. Conforme relata os entrevistados, a “teologia da prosperidade” é pregada por muitas linhas de igrejas evangélicas, em que os membros devem fazer doações e confiar em uma benção divina. Contudo, essas doações são exorbitantes e servem para enriquecer os líderes religiosos mediante a exploração financeira e a influência psicológica. Esses mesmo líderes também são aqueles que se beneficiam das agressões contra as religiões de matriz africana e reforçam o racismo e a intolerância.
Depois de assistir ao documentário e discuti-lo coletivamente, recomendamos que os estudantes façam algumas atividades:
- Debate sobre intolerância religiosa;
- Análise coletiva de dados estatísticos e notícias sobre casos de racismo e intolerância religiosa no Brasil, com o propósito de dar visibilidade a esses problemas e buscar formas de combatê-los;
- Evento escolar para discutir a intolerância religiosa e o racismo, com palestras e apresentações culturais e artísticas.
A partir do uso dessa obra audiovisual na sala de aula, podem ser trabalhadas as seguintes competências e habilidades da BNCC nas áreas Linguagens e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas:
1. Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo.
(EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens, levando em conta seus funcionamentos, para a compreensão e produção de textos e discursos em diversos campos de atuação social.
2. Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza.
(EM13LGG201) Utilizar as diversas linguagens (artísticas, corporais e verbais) em diferentes contextos, valorizando-as como fenômeno social, cultural, histórico, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
3. Utilizar diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais) para exercer, com autonomia e colaboração, protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva, de forma crítica, criativa, ética e solidária, defendendo pontos de vista que respeitem o outro e promovam os Direitos Humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global.
(EM13LGG303) Debater questões polêmicas de relevância social, analisando diferentes argumentos e opiniões, para formular, negociar e sustentar posições, frente à análise de perspectivas distintas.
(EM13LGG305) Mapear e criar, por meio de práticas de linguagem, possibilidades de atuação social, política, artística e cultural para enfrentar desafios contemporâneos, discutindo princípios e objetivos dessa atuação de maneira crítica, criativa, solidária e ética.
7. Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal e coletiva.
(EM13LGG703) Utilizar diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais em processos de produção coletiva, colaborativa e projetos autorais em ambientes digitais.
1. Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica.
(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais de matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, evolução, modernidade, cooperativismo/desenvolvimento etc.), avaliando criticamente seu significado histórico e comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.
4. Analisar as relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas, discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação e transformação das sociedades.
(EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.
5. Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos.
(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.
(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais, discutindo e avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.
6. Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
(EM13CHS601) Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos indígenas e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem social e econômica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país.